terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Os lobos não amam

Pela janela vejo a lua: penso em você.
No espelho da noite, a sombra do olhar
ainda envelhecido pela dor
pelo tempo
pela espera
de tudo que não veio
de tudo que não foi.
As palavras me abrigam.
Me protegem
Me exilam.
Seu desejo arde silente nesse olhar que
devora
e foge assustado.
Quisera tocar o seu rosto
sem  pressa e sem medo
e por uma noite não ter plateia
nem bando ou alcateia.

Gilvânia Souza.

Quem você pensa que é?

A pessoa por trás da face
quem é?
Um anônimo na multidão?
Ou uma multidão de anônimos gritos
por trás de um sorriso?
Médico, engenheiro, professor
atleta, poeta ou escultor?
O arquiteto a desenhar o mundo?
Ou o artista a reconstruí-lo num segundo?
Ignorante
você julga meus atos
Porém, não chora minhas lágrimas
E desconhece os fatos.
Quem você pensa que é
para condenar a solidão dos meus olhos
se não calça meus sapatos?
Atrás da face: o ser
E esse o tempo jamais envelhece.
: é manhã de domingo
: é nudez que não se esquece.

Gilvânia Souza.

Thaína, Neilon e Fábio

Lutavam pela vida e pelo direito de viver. 
Tinham no altruísmo uma meta: pensar nos outros antes de pensar em si, mesmo que isso custasse a insônia daqueles que os amavam. De quando em vez, um  vento suave acariciava pequenos objetos de decoração que compunham o ambiente. E as árvores próximas num bailado sinestésico reverenciavam uma canção de Zé Ramalho.
Era a vida que voltava junto com muitas risadas.
" Moço, vai demorar?"
Aquele caldo levou uma eternidade para chegar. 
"Mas a torrada parecia ter sido feita no céu". " O tempero da fome fazia toda a diferença"! Eram guerreiros. Eram valentes. Humanos, cheios de humanidade, a lutar por ela. Vinham de muito longe. De terras longínquas e feitos distantes. Estavam assim, imersos em seus medos e fraquezas, mesmo tendo defendido um povo inteiro. Na face? A expressão de cansaço. Na alma? Cicatriz.
No entanto, a leveza habitava palavras e gestos.Olhares mansos  e riso largo, desfalecidos nunca vencidos! Celebravam a vida e a noite os celebrava  num abraço aconchegante. De repente, era hora de ir. Levantaram  e se foram. Deixando para trás um rastro de humanidade que iluminou a noite no sertão.

Gilvânia Souza.
(Texto autobiográfico! Valeu a pena viver esta noite.)

Utopia

Sonho com um tempo
No qual
o respeito ande de mãos dadas
e a dignidade de cabeça erguida.
Tempo em que a ética faça morada
na casa do povo
e nos gabinetes do Executivo.
Um tempo em que os direitos sejam direitos
: respeitados
: humanizados
E o educador valorizado!
Que sejamos respeitados pelo que sonos
pela sociedade que formamos
por crer quando todos já desistiram
:d do fracassado
: do marginalizado
Porque somos a esperança quando não há
E plantamos sementes que o tempo germina.

Eu sonho com um tempo
em que respeitem a Educação.

Gilvânia Souza.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Eis me aqui

Eis me aqui:
poeta.
calada
quieta.
Olhando o grande rio da vida passar dentro de mim.
Penso em você, em nós. Somos únicos e somos muitos em  medos e segredos que habitam nos vales mais sombrios da solidão humana.
Eis me aqui, poeta.
Aprendendo a amar. Sonhando amores e tatuando cicatrizes.
Bandeira, Baudelaire, Drummond...traz o belo e o imortal mas você define o amor - de forma simples e natural.

Gilvânia Souza.



Túmulo

Aqui jaz uma poetisa

⛥ 06/1975  e ♰ 12/2017

Quando uma poetisa não tem mais o que dizer é porque a incompreensão alheia, a desumanidade que a cerca  apagou a última centelha de poesia. 
Poetas são estrelas do invisível a espalhar os sonhos que ninguém vê. São seres sensíveis que amam por amar, que vivem reclusos em seu mundo porque não suportam a violência ao redor. Eles deixam a sua dor de lado e mesmo chorando limpa os ferimentos  alheios. No entanto, vem um cidadão sem senso de humanidade e com extrema maldade acusa. Agride. Denigre. Crime? Desde quando é crime acreditar no ser humano? Conceder-lhe uma segunda oportunidade? Trabalhar para resgatar aqueles que a sociedade marginaliza. O amor é livre e incondicional. Não se sujeita às suas regras. Regras burguesas e meritocratas. Ele se alegra com os pequenos gestos de humanidade. Quando uma poetisa se cala, morre uma estrela.
- Aqui jaz uma poetisa.

Gilvânia Souza

Testamento



 Eu deixo a vida como quem fecha um livro.
Com a poesia das tardes de outono a vestir o chão de douradas folhas.
Deixo aos meus filhos a liberdade das manhãs de setembro,em seu esplendor de flores de acácia e a verde relva a cobrir os campos prateados de orvalho. Na viração da tarde, a brisa suave a brincar com seus cabelos  e a segredar-lhes uma esperança.
Deixo também o inebriante aroma do vinho a seduzir a alma e aquecer o paladar nas frias tardes de inverno,  quando o céu avermelhado parece sangrar a solidão da alma e o vento gelado atravessa a serra e o coração.
Se pudesse deixaria a lua e sua magia, o pôr do sol e sua cores , e os livros de Guimarães Rosa para enfeitar a vida.
Para o João deixaria a música da madrugada que invade a vida e acalma a alma. E para você, Maria, a coragem do sol que se ergue todas as manhãs para iluminar os dias que nunca são iguais.

Gilvânia Souza.

Dolo

PWN, 20 de Dezembro de 2017

Tenho medo.
Você está morrendo aos poucos a cada dia dentro de mim. Ou melhor, estão matando você a cada dia.
Isso é uma espécie de homicídio não tipificado no código penal. Mas, tem todos os elementos de um crime, inclusive o dolo!
E eis me aqui: refém do tempo e da distância, do silêncio e da maldade.
Sinto sua ausência, mas não como antes.
Ainda sinto seu cheiro quando fecho os olhos e sonho com você, mesmo antes de dormir.
O tempo destrói todas as coisas, até mesmo colunas de mármore. Imagina, corações de cera!
E eu tenho tanto medo!

Gilvânia Souza.

Véspera de Natal

É véspera de natal.
A casa vazia. A alegria encolhida atrás da porta do banheiro. Sinto-me sozinha.
Penso em você.
O mundo é dos pares. Sou ímpar.
Não tenho lugar.
Tento pensar em outras coisas, mas o pisca-pisca intermitente diante da sacada não me deixa concentrar.
E além de tudo tem você.
E seu silêncio.
Seu sumiço diplomático.
Não sei dizer amém para a crueldade impune.
Esqueço-me de que é natal, ou quase.
Mas, agora já é tarde.

Gilvânia Souza.

Natal

 PWN,  25 de Dezembro de 2017

Hoje eu parti
: sem nem ao menos ter chegado.


Gilvânia Souza

Portas do sol


O tempo destrói todas as coisas

: os amores
: as lembranças

- está destruindo você.

Gilvânia Souza

Cartas a um desconhecido

PWN, Dezembro de 2017
Oi!
As coisas por aqui andam complicadas. Já escrevi cartas ( que ninguém irá ler), crônicas, poemas. Tudo em vão.
O silêncio incomoda muito.
O tempo está matando você aos poucos.Diria até que é uma espécie de homicídio lento, no entanto, real.
Durante as primeiras semanas achei que daria notícias. 
Sempre acreditei que quando queremos uma coisa, damos um jeito de conseguir. A esperança morreu faz tempo.
Só espero que esteja bem. E como não encontro explicação para seu silêncio, comecei a esquecê-lo. Mas, é difícil porque volta e meia alguma coisa me faz lembrar você. Hoje sei: fazia parte da minha vida.

Gilvânia Souza.

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