domingo, 29 de setembro de 2013

Ex (posição)


A paleta parecia ter vida própria. Os pincéis moviam-se numa precisão,até então, desconhecida. A tintas sobre a tela adquiria tons sobrenaturais, humanos até! O sangue misturava-se às cores e escorria lentamente por entre os alvos dedos do apaixonado pintor. Apaixonado não pela vida, porque desta já desistiu faz tempo! Apaixonado pela sua arte, porque foi tudo que lhe restou quando lhe tivera furtado até mesmo as esperanças.!
Agora, enclausurado no tempo e por tempos, esquece-se do viver e vive pra esquecer. Transfere a cada pincelada a vida imanente que ainda insiste em pulsar e os sonhos que não vivera, enquanto definha-se lentamente, entre as últimas cores da aurora.

Gilvânia Souza

sábado, 28 de setembro de 2013

Conto de fadas



Era uma vez um contos de fadas, lindo, perfeito, escrito pra ser vivido em cada linha, em cada verso. Idealizado no tempo e no espaço; ficcionado por um escritor amante da vida e da solidão de muitas luas. Nele havia uma frágil princesa, sonhadora e feliz como todas as outras, um príncipe - não tão encantado assim - mas tinha encanto o bastante para roubar o coração e os sonhos da pequena realeza...ali, sentada na amurada da torre.
Havia também, uma bruxa má...Tão má que se disfarçava com um doce sorriso as atrocidades que cometia no escuro da alma.
E assim, a vida seguia...naquele reino distante...
Mas, nada é eterno!
E certa manhã, por entre uma tempestade de letras e raios...tudo se desfez, na mesma rapidez com que se formara...
Ruínas. Agora só há ruínas. Ruínas do tempo, de um romance não terminado...não vivido e ainda por escrever.
- Mas, não era um conto de fadas?
- Sim! E em todos os contos de fadas só há sofrimento atenuado no final...!
Aqui, o escritor fechou o livro, acho que o sono chegou...pegou-o de surpresa em meio a um enredo por terminar. E o romance ficou assim, no ar, inacabado, sem poesia....sem fantasia: um conto de fadas, afinal!



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Romance





É noite lá fora e faz tanto frio aqui dentro! O vento bate na janela e adentra os vãos da esperança carcomida pelo tempo. Por anos olhei essa estrada - hoje coberta de neve - e por você esperei. Mas nunca voltou!
Acho que jamais esteve aqui; pelo menos, não por inteiro. Era viajante do tempo, sem pouso certo... Indiferente aos meus sonhos, dormiu comigo e habitou em meu castelos. Nas noites lua, cobriu-se com meu manto de estrelas... Mas, se foi com a primavera.
Faz tanto frio, agora!!! A lareira e o vinho não me aquecem e a neve se acumula lá fora junto com a minha solidão.


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Estrada

 Começa agora, mas não é lá fora... é dentro de mim, nos caminhos do sem-fim! Por veredas de um grande sertão, sertão mineiro...com lagoas aqui e acolá, cercadas de buritis que bailam ao sabor do vento que dança e encanta o entardecer.
A travessia? Tão difícil, mestre! E o caminho tão solitário.
O sertão? Tão grande!
Meu medo se perde no vermelho de Agosto, nas folhas secas caídas pelo chão, no trotar do cavalo a contornar o chapadão... nos cabelos soltos ao vento e os olhos na imensidão.
A noite vem ao meu encontro e ela é tudo que tenho: com seus mistérios, seus segredos, sua magia...a segredar-me que ainda não é o fim do dia!
- Vem comigo?
O sertão é dentro da gente...! Deixe-me deitar em seu ombro e nas noites de lua, ao pé da serra, fazer de você meu abrigo...?


Quando eu não mais estiver aqui




encontrar-me-á nas canções da noite
no silêncio das esquinas
no brilho frio das estrelas
que pela eternidade me fascina...
A solidão chamará por mim
e o outono cobrirá o chão por onde pisar
A paisagem vermelha a se desenhar
no deserto, do seu peito sem fim!
Inverno??
Tormento interno na madrugada fria
: a casa vazia
: meus livros num canto jogados
...nossos vinhos ainda na adega
E o vento lá fora, mágica sinfonia
De um amor eterno, no tempo calado!


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O Encontro

Morremos um pouco a cada dia. A morte chega por caminhos tão inesperados.São palavras tristes que furtam nossos sorrisos, as cores da primavera e tiram nossa alegria de viver. Ela chega em doses homeopáticas, em forma de sonhos idealizados - na perfeição do amor- e abandonados pelo medo, pela covardia de não tentar refazer o caminho...
Morremos quando deixamos de acreditar no ser humano, aquele que senta anônimo ao nosso lado, num banco de praça, ou caminha em silêncio numa manhã, no parque, e nem ao menos desejamos um simples "bom dia..."
Morte lenta, eutanásia.... quando não somos capazes de crer em nós mesmos, de acreditar no Amor, que regenera a vida - destruída pela dor, pelo vício, pelas mentiras...suicídio enfim, por não termos coragem de viver...
Não quero viver na plenitude de quem morre a cada dia... Quero viver o dia, como se fosse o último - carpe diem , meu amigo! Não sei se verei o próximo nascer do sol... Mas se puder ver, quero que esteja comigo, brindando à vida com seu doce sorriso a permear os meus versos.


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Velho mundo

Sou parte do velho mundo
herança de um sonhador.
Coração alado
Amor etéreo
girassol sem cor!
Sou parte do que não era
o sonho que não sonhei!
A tela vazia
que nunca pintei..
-entre o Outono
e a Primavera!
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