terça-feira, 28 de maio de 2013

Outono

Era final de outono. Tinha que ser. A estação perfeita! As folhas secas acobreavam o chão, numa mistura viva de cores e restos de vida. A brisa da manhã suave, tocava meu rosto: quase uma prece. Um pedido. Um gesto desesperado pela vida que lentamente morria dentro de mim.
Não havia sonhos, nem sorrisos... nem horizontes. Não havia porquê viver e nem tão pouco porquê morrer. O acordar era um capítulo – em preto e branco- daquela antiga novela que a gente assiste mesmo sabendo tudo que vai acontecer.
Foi assim que eu entrei naquela escola. Numa tarde de sexta-feira. Tudo era ruínas em mim: fazia o que amava, mas não me sentia amada. A alegria das crianças me incomodava, suas cores, suas formas e sons... como podiam ser felizes com tão pouco? Rir... e rir e nem ao menos saber por quê?
Encolhia-me em pensamentos, qual bicho do mato, acoado, sem saber para onde fugir... O coração pulsava forte contra o peito, queria sair, explodir, existir... gritar, revelar-me.
De repente, o sinal! Fim de expediente. Via-me tentando caminhar pelos corredores repletos de alunos sedentos por liberdade, gritando desesperadamente como se saíssem de um presídio, aos empurrões e palavrões: comemoravam o final de semana que chegava. E eu? Comemorar o que? Voltar para casa? Meu mundo sem cores? Povoado de medos e segredos?
E nesse mar de pensamentos, avisto um rosto amigo na sala ao lado: não penso, não páro! Abro os braços num sorriso-abraço como se ganhasse um pedaço do horizonte... ! E assim, meio atrapalhada, eufórica... sem entender a alegria do momento dou as boas-vindas ao colega que trazia primavera no olhar.


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