Era final de outono.
Tinha que ser. A estação perfeita! As folhas secas acobreavam o
chão, numa mistura viva de cores e restos de vida. A brisa da manhã
suave, tocava meu rosto: quase uma prece. Um pedido. Um gesto
desesperado pela vida que lentamente morria dentro de mim.
Não havia sonhos, nem
sorrisos... nem horizontes. Não havia porquê viver e nem tão pouco
porquê morrer. O acordar era um capítulo – em preto e branco-
daquela antiga novela que a gente assiste mesmo sabendo tudo que vai
acontecer.
Foi assim que eu entrei
naquela escola. Numa tarde de sexta-feira. Tudo era ruínas em mim:
fazia o que amava, mas não me sentia amada. A alegria das crianças
me incomodava, suas cores, suas formas e sons... como podiam ser
felizes com tão pouco? Rir... e rir e nem ao menos saber por quê?
Encolhia-me em
pensamentos, qual bicho do mato, acoado, sem saber para onde
fugir... O coração pulsava forte contra o peito, queria sair,
explodir, existir... gritar, revelar-me.
De repente, o sinal! Fim
de expediente. Via-me tentando caminhar pelos corredores repletos de
alunos sedentos por liberdade, gritando desesperadamente como se
saíssem de um presídio, aos empurrões e palavrões: comemoravam o
final de semana que chegava. E eu? Comemorar o que? Voltar para casa?
Meu mundo sem cores? Povoado de medos e segredos?
E nesse mar de
pensamentos, avisto um rosto amigo na sala ao lado: não penso, não
páro! Abro os braços num sorriso-abraço como se ganhasse um pedaço
do horizonte... ! E assim, meio atrapalhada, eufórica... sem
entender a alegria do momento dou as boas-vindas ao colega que trazia
primavera no olhar.
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